PUBLICADO EM 9 julho   2017

No dia da Freguesia, como vem sendo habitual, falou-se um pouco da nossa história, tivemos poesia, música e dança. Pelo palco desfilaram gerações unidas pelo mesmo orgulho de pertencerem a esta terra com história e com um rio onde se retira uma das suas maiores riquezas económica, patrimonial e cultural…o sal …
A cerimónia destina-se a enaltecer o orgulho de ser castromarinense. Homenageamos pessoas que pela sua dedicação, persistência e amor à terra se distinguiram ao longo do tempo, deixando a sua marca na nossa sociedade tornando-se por isso merecedoras do tributo que receberam. 
Foram distinguidos os seguintes cidadãos:

Ernesto Gregório Pires recebeu a medalha de dedicação:

Era ainda uma criança de 12 anos quando deixa de brincar e começa a trabalhar nas obras, com o pai que era pedreiro.

Mantém-se nesse trabalho até ir para a tropa e ainda algum tempo depois de regressar. Até que decide inscrever-se na PSP onde ingressa. É colocado ao serviço primeiro em Lisboa depois em Angola passando também pelos Açores.

Mais tarde é promovido e colocado em Vila Real de Santo António, onde casa e constitui família.

A vida familiar e o nascimento dos dois filhos, faz renascer o gosto de montar presépios, que lhe havia ficado do tempo de escola, e que se transforma numa tradição que envolve a família em cada Natal… a ida ao musgo a compra de novas imagens e peças bem como a mecanização das mesmas vai-se tornando uma tradição familiar, fazendo crescer de ano para ano o presépio de casa, até este acabar por sair fora de portas.

Em 1998 monta o primeiro presépio fora de casa: na Igreja de São Sebastião, numa iniciativa com o objetivo de angariar fundos para um grupo de crianças da terra  irem numa peregrinação a Fátima. A iniciativa foi um sucesso e manteve-se durante quatro anos, até que em 2002 é convidado para montar o presépio de VRSA. Por lá se mantém até 2009 altura em que  abandona o projeto.

Depois de algum tempo de interregno é convidado pela Junta de Freguesia de Castro Marim para montar um presépio na vila, que inicialmente foi montado nas instalações da antiga CGD. De então para cá todos os anos o presépio da vila de Castro Marim tem crescido em tamanho, qualidade e inovação, que se reflete num crescente de visitantes de ano para ano.

Manuel Honrado Nogueira Aquilino (Manuel d’Agua) , foi agraciado com medalha de mérito:

Seu pai era proprietário de um forno onde cozia cal para a indústria e a mãe era doméstica. Para ajudar a economia familiar os filhos com tenra idade começavam a ajudar nos trabalhos do forno. A sua infância foi pois mais uma das infâncias roubadas pela necessidade de trabalhar. Até completar a 4ª classe foi crescendo entre a escola e o trabalho no forno para ajudar o pai.

Aos 18 anos ruma a Lisboa onde trabalhou nos fornos industriais e numa fábrica de materiais de construção. Mais tarde regressa a Castro Marim onde ingressa na Câmara Municipal como canalizador, à data o único dos serviços de água da câmara, que lhe granjeou o nome de Manel D’Água, pelo qual ficou para sempre conhecido.

Entretanto casa e constitui família e paralelamente ao seu trabalho de canalizador, abre com a esposa, no local onde são hoje as instalações do motoclube, uma pequena tasca com o nome bar restinga, nome esse proveniente de uma equipa de futebol à qual estava ligado e dava apoio.

Quando nasce o segundo filho ele e a esposa resolvem alugar o bar restinga e cerca de 5 anos mais tarde decidem abrir um pequeno restaurante com o nome “fornalha das tapas” que rapidamente cresce e se transforma oficialmente no Restaurante O Manel D’agua.

Na verdade Manuel Aquilino ou Manel d’água como todos o conheciam, era um homem dos sete ofícios e de uma habilidade invejável, os seus tempos livres eram todos empregues na edificação e melhoramento do restaurante. Não conseguia estar parado diz quem o conhecia. E o seu tempo era passado entre o trabalho de canalizador da Câmara e o trabalho no restaurante Manuel Aquilino não tinha nem fins de semana nem férias…estava sempre em movimento

O Restaurante Manel d’água, um projeto e negócio familiar, cresceu em tamanho e em qualidade de tal forma que se transformou numa referência de Castro Marim para muitos turistas nacionais e estrangeiros que nos visitavam muitas vezes propositadamente para vir comer o peixe assado especialidade da casa.

Adelino António Pádua Simão distinguido com a Medalha de Honra:

Nascido numa família de salineiros foi ainda criança com oito ou nove anos que começou a ajudar o pai nas lides do sal.

Tomou-lhe o gosto e fez do sal a sua vida. Foi de resto o único dos onze irmãos e irmãs que abraçou a paixão da extração do sal que herdou de seu pai.

Ainda tentou trabalhar na construção mas rapidamente desistiu para retomar o trabalho de salineiro.

O sal entranhou-se de tal forma na sua vida que até o seu casamento a ele se deve…já que é durante o período que vai trabalhar nas salinas da Fuzeta que conhece a rapariga com quem viria a casar.

Trabalhou trinta e três anos para uma empresa de Olhão que fazia a extração mecanizada de sal. E quando saia do seu trabalho nas salinas ainda arranjava tempo para ajudar o pai nas salinas onde este fazia a extração manual de sal.

 Ao longo da sua vida foi aperfeiçoando a arte de ser salineiro e ainda hoje há quem recorra aos seus conhecimentos para tirar dúvidas no que se refere ao sal e à sua extração.

O sal elemento da natureza invisível na sua união profunda com a água… cuja invisibilidade só a força do sol intenso põe a descoberto, para nos deliciar com a sua singela e fascinante brancura…deixou o seu cunho neste homem que aos oitenta e um anos nos cativa pela sua genuinidade e simplicidade.

 Parco em palavras mas com um olhar profundo que reflete a paixão pela arte que questões de saúde obrigaram a deixar… ele tal como sal dá sabor à História desta terra e destas gentes.

A noite foi encerrada com a actuação do grupo Musicorum Algarve, que nos encantou com a sua musica. Ver Fotos